sexta-feira, 27 de junho de 2014

Luto. Ou esperar que o tempo acalme a dor.



Só me apercebi do quão certa a A. estava quando ouvi a palavra LUTO.
Não morreu ninguém. Mas o que se passa cá dentro... o que se passa cá dentro diz-me que estou a fazer o meu LUTO. Por alguém que nunca sequer nasceu. Por alguém que nunca chegou a ser concebido. Por alguém que não passou de uma idealização, de uma parte bonita daquilo que seria o meu (nosso) projecto de vida, de família biológica. 

Neste mês que agora está a terminar eu iria fazer a minha primeira Fertilização In Vitro (depois de 3 inseminações artificiais planeadas, depois de só uma realizada,  depois de só uma falhada), depois de um ano em lista de espera. Seria tudo o que muitas mulheres que não conseguem procriar sem ajuda médica mais quereriam - a oportunidade de fazer uma (ou mais uma?) FIV.
Pois chegou a hora dela e o meu coração não me permitiu, sequer, comprar a medicação e iniciar fosse o que fosse. Pensei, racionalizei, parei, preferi escutar o meu coração, recebi vários (VÁRIOS!) sinais do meu querido Universo, dizendo-me de que o meu coração saberia o que fazer muito melhor, e saberia muito melhor do que a minha cabeça... e não fui para a frente. Parei antes de começar. E achei que estava a tomar a melhor decisão da minha vida! E nesse mesmo dia recebo contactos dos meus queridos pequeninos afilhados, que moram lá longe naquelas terras quentes de África (de onde eu adorava que os meus futuros filhos viessem!), e eu rejubilo de alegria ao abrir a caixa de correio e a ver as novidades deles ali, à minha espera. E no mesmo dia recebo um convite para actividades que em tudo sem relacionam com adopção e imediatamente voo para lá. Faz-me sentido. É isto!
"Estou no caminho certo" - pensei. 
E depois de descansar o meu coração, depois de ter a certeza que Segurança Social nos vai ligar num qualquer dia de um qualquer mês feliz, a anunciar a chegada dos nossos meninos, eis que chego a casa, e, perante uma pequenina frase trocada com o Girassol em que algo não ressoou na minha cabeça e que me deixou pensativa, preocupada e sei lá que mais, tudo desabou no segundo seguinte... Uma frase que nada teve a ver com nenhuma das nossas situações sobre filhos, nem com o meu trabalho, nem com nada de nada... e fico triste, triste, triste, triste a partir daí. Tão triste que não consigo avançar, não consigo comunicar com o Girassol, não consigo, não consigo... E paro para me entender e não me entendo. E paro para reflectir na tristeza infundamentada de quem sabe, de coração aberto, que adopção é o CAMINHO, e nada. Nada passa. O sentimento mau permanece. Não falem comigo porque estou off. Nem sequer quero estar feliz. Permitam-me a tristeza, se faz favor.

E de repente consigo escutar a minha querida A., que no meio das mais sábias palavras ditas com a sensibilidade de quem vive de perto a parentalidade e o amor desta missão, eis que me diz que eu estou de LUTO. 
LUTO?! 
Tão emocionalmente sábia... Demorei a entender.
"Estás a passar por um processo de luto... de luta e de luto... luta para te adaptares à realidade e reajustares as tuas expectativas, tentando perceber o que é certo, e de luto porque idealizaste uma coisa durante muito tempo e agora estás a passar por uma transformação dessa ideia. O mais natural é que estejas emotiva, instável, explosiva... até as coisas assentarem...  e mesmo depois ainda vai demorar um pouco...   Nós passamos por muitos lutos na vida, porque é a forma de processarmos a realidade.
Luto significa passar por determinadas etapas: negação, revolta, tristeza, negociação, aceitação. Tu estás entre a tristeza e a negociação. Resolvida a negociação,vem a aceitação - o que significa que cresceste mais e que algo novo surgiu na tua vida! É uma fase dura, eu sei, mas vai abrir portas maravilhosas, e terás uma vida recheada de gargalhadas de crianças, tenham elas os teus olhos ou o teu coração...
Se o universo está a falar contigo, como sabes que está, não acreditas que deseja o melhor para ti? Que tudo ficará bem?... Não impede que fiques triste, faz parte... mas dentro de ti acredita que essa tristeza passará e que em breve serás muito, muito feliz!
Hoje tomaste uma decisão difícil, que não tem de ser definitiva mas que foi muito difícil. Estás com uma enorme pressão em cima... em breve tudo terá menos intensidade e vais sentir que tomaste a decisão certa e que estas lágrimas hoje só estavam a regar a terra para as sementes florirem".
Ao que eu apenas consegui responder, ainda em estado catatónico pela tristeza e pela compreensão (finalmente!) da mesma: "Tomar a decisão de não ir ao hospital fazer tratamentos de infertilidade foi afastar o não ser mãe biológica e ter um bebé a crescer dentro de mim [mais lágrimas!], deve ser por isso que estou a chorar... Agora é deixar fluir e preparar-me para ser mãe de outra maneira...".

Trabalho de casa para o mês de Julho: 
1- deixar as coisas assentarem e viver o meu luto, ao meu ritmo, aceitando que a tristeza faz parte, independentemente da  MARAVILHOSA DECISÃO de ADOPÇÃO; 
2- abrir o meu coração e preparar-me para ser mãe de outra maneira! ; 
3-  continuar a derreter-me com todas as crianças cor de chocolate / canela / café,... que vejo por aí! E derreter-me com todas as outras também, que uma mulher não é de ferro!

Papoila.



sábado, 26 de abril de 2014

Adopção. Sonhos.

Passei a noite toda a sonhar convosco. Não me lembro de quase nada, ou nada mesmo, mas foi uma noite intensa, em que entre o acordar e o voltar a adormecer, carregava-se num botão qualquer que me levava de volta à imensidão de coisas e emoções deste processo todo até vos trazermos para casa, para materializar aquilo que já tenho [muito!] no coração! Acordei feliz, feliz, feliz, parecia que já vos tínhamos ido buscar e que tudo estava no caminho certo.... e está, no caminho certo.... o Universo sabe o que faz... por mais que não entendamos esta espera, tudo é feito no tempo certo, na altura certa, com as pessoas certas. O Universo manda recados muitas vezes, e os que mais recebo são "pára de quereres controlar tudo!"... :)  de facto...
Vou continuar com esta sensação boa no meu coração. Deixem-me estar sossegadinha, que o sonhar a noite inteira convosco, nossos meninos de várias cores, trouxe-me tanto amor e alento ao coração...

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Eu, Papoila, me confesso

Eu, Papoila, me confesso.
Não sei o que vai sair daqui, mas parece-me que será uma espécie de  um canto de desabafos com pinceladas de humor. É a melhor forma de lidar com o dia a dia de quem aguarda pelos ansiados filhos de várias cores, com o despropósito de comentários infelizes que vêm sabe-se lá de onde [o porquê desconfio, pois vidas vazias dão azo a frases
vazias...] e com o tentar fazer com que a nossa vida normal seja isso mesmo - normal. E feliz, já agora, que a felicidade corre ao nosso lado e nós temos é de seguir-lhe as pegadas...